terça-feira, 10 de setembro de 2013

Rasgo depois de ler

          Dobro a página do livro e marco algumas palavras capazes de prender a minha atenção por algo mais significativo do que dois segundos. Busco em minha mente lembranças de já ter lido aquele trecho antes. Procuro lembrar. Eu sempre lembro.
          No meu peito não cabe mais nenhum abismo. Todas as minhas defesas lutam contra qualquer vazio que ameace me destruir.  Escapes, hiatos, fraquezas: nada. O espaço que armazenava toda a insensatez do meu ser foi preenchido até as bordas e, com toda a pressão que faz lá dentro, transbordou. Às vezes me recuso a acreditar que meu amor é exotérmico, que minhas palavras são oblíquas e todas as minhas quedas remetem a um único precipício. 
          Foi enquanto selecionava o que era lixo e o que valia a pena ser guardado que encontrei fragmentos de papéis amassados e rabiscados com poesias de quinta. Li todas e me perguntei como um dia fui capaz de acreditar que uma coisa daquelas mereceria manchar uma página em branco. Escrever é o meu câncer, e o que escrevo é um tumor que já não pode mais ser retirado. Irônica e sarcasticamente, é o cancro que me salva. Porque, como já deixei explícito: no meu peito não cabe mais nenhum abismo.

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