sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Súplicas ininterruptas

          Aqui, pega um fósforo e acende seu cigarro. Vem contar pra mim seus sonhos e anseios, vem me dizer que, se pudesse, ainda estaria me esperando na porta da sua casa na Lapa. Diz pra mim como é olhar aqueles olhos verde-azulados ou azul-esverdeados todos os dias, agora que o destino permitiu que eles fossem ao seu encontro. Diz pra mim que está tudo bem aí e que, independentemente de qualquer coisa, vai ficar tudo bem aqui também. Tenta me deixar mais calma, tenta me fazer serena. A cidade é muito grande e a distância daqui até o céu é maior ainda. Os relógios marcam que é tarde, mas na minha cabeça ainda são 13h e o mundo parou. Na minha cabeça, não há bipes, nem ventilação, nem arritmias. Na minha cabeça, tudo o que há já passou e eu nem me lembro mais, porque dentro de mim há rosas vermelhas, sombreamentos e uma porção de despedidas; não há espaço para toda a correria, a súplica e o fim. A cidade é muito grande e a saudade também. A cidade é muito grande e o sono não vem. Espera por mim mais uma vez antes de contar suas histórias e tomar um café preto. Escuta os sons lá da rua e me deixa adivinhar qual é sua cor favorita. Fala um pouco de como tudo era antes, me ensina um pouco do que você sabe. Deixa eu contar um pouco sobre mim e tentar convencê-lo de que a minha irreverência não é por mal. Senta um minuto na escada e me espera que eu já estou chegando, estou quase saindo da Marginal. Mas, primeiramente, perdoa essas memórias que não são minhas. Perdoa a minha falta de eloquência e a voz embargada. Perdoa a fraqueza, a insegurança e meus comentários fora de hora. Perdoa a cidade por ser grande demais e não me deixar alcançá-lo quando preciso. Perdoa a cidade e a mim, pois somos ambas feitas de distâncias. 

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