domingo, 19 de março de 2017

Autossabotagem

            A minha consciência é vacilante.
          Às vezes, quando penso que ninguém está vendo, sou eu mesma e ajo de acordo com meu arbítrio. No resto do tempo, faço bobagens para me conformar. É nesses lapsos de dignidade que acabo trocando a felicidade simples ao lado de alguém por uma vida de intermináveis questionamentos a respeito da justiça do mundo. É nesses lapsos de decoro que sou novamente aquela criança de 9 anos guardando um segredo que, mais tarde, me destruiria. É nesses lapsos de amor-próprio que acabo trocando a opção de curso para agradar aos outros e colecionando algumas aprovações, mas, novamente, infeliz. Ou, ainda, é quando chega a terça-feira e digo que não tenho nada a dizer ao mundo, mas, na verdade, tenho. A minha consciência é vacilante, é hesitante, é resignada. Ao mesmo tempo em que aprende facilmente a sorrir de si mesma, demora a aprender a tomar decisões acertadas. Num instante está serena e, no outro, enlouquecida. E aqui estou eu, nesta solidão de uma criança que acaba de libertar um passarinho. Nesta solidão de quem espera um desenrolar diferente desta vez.
          A pessoa que se autossabota não vê a infelicidade hasteando a bandeira. Ela irrefletidamente acredita que está tomando a melhor decisão até que, uns minutos ou horas ou dias ou meses ou anos depois, percebe que naufragou.
         A pessoa que se autossabota não espera que vá mudar de ideia e acredita estar no meio de um ato de coragem. "Vou correr este risco." Ela se acovarda diante das próprias vontades e considera-se corajosa. A pessoa que se autossabota é contraditória, antitética.
      A autossabotagem chega em silêncio para depois fazer um grande estardalhaço e jogar tudo para o ar. Chega em silêncio escondendo quem é e se maquiando de impavidez. Chega em silêncio para, no fim, causar uma histérica comoção.
        A minha consciência é humana. Costuma cultivar algumas ideias equivocadas a respeito de si mesma. Tranca-se insistentemente num labirinto e grita para todos que consegue sair de lá sozinha. Grita para todos que está feliz com as suas escolhas até que, repentinamente, não consegue mais sair.

Um comentário: