terça-feira, 7 de março de 2017

Quantas vidas cabem nesta?

           Quero viver infinitas vidas, mas estou presa a esta. Não raro me pego pensando na imensidão de coisas distintas que quero fazer ao mesmo tempo. São tantas essas coisas que fico indecisa sobre quais quero realizar nesta vida e quais postergar para outras - se houver.
          O meu desejo é viver mil vidas nesta aqui, por isso virei escritora. Há uma parte de mim que se vê de blazer preto e unhas feitas tomando um café com um autor e fechando negócios para a editora. Do mesmo modo, uma outra parte desta minha hesitante existência quer correr por um hospital dizendo que tem cirurgia marcada para as três e meia. Há, ainda, mais uma fatia que quer vestir uma camisa branca de manhã e entrar na sala de aula para ensinar literatura. Quantas vidas cabem nesta? Um pedaço de mim grita por um escritório e textos para revisar, a outra clama por um laboratório onde fazer pesquisas sobre a psique humana. Um dos fragmentos do meu ser quer dar aulas de redação para adolescentes no processo de escolha profissional, o outro se desespera por não saber, ele mesmo, escolher.
          Quantas vidas cabem nesta? A pergunta que me anuvia a mente é a mesma que me faz transparecer traços de puro contentamento. É em terças como esta que descubro por que a vida me encaminhou para cá. São onze e vinte e nove agora que escrevo esta sentença e há quase meia hora eu pensava que o dia estava semipleno. Eu falhava em não pontuá-lo com as palavras da abstração semanal. O meu desejo é ser um milhão de pessoas diferentes, ter um milhão de experiências diferentes e vivenciar o meu dia de um milhão de formas diferentes. Quero viver infinitas vidas, mas estou comprometida com esta. Por isso virei escritora.


“Escritores não são exatamente pessoas…
eles são um monte de pessoas tentando ser 
uma pessoa.”
- F. Scott Fitzgerald

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